Revdsta Facultad de Salud - RFS Julio-Diciembre (2011) 3-2: 9-15

ISSN 2145-1362

ARTÍCULO DEINVESTIGACIÓN


Investigando a relagao formagao médica e atividade física: significados, procedimentos e resultados

Searching relation medical formation and physical activity: Meanings, proceedings and results

Palavras-chave:

Aguinaldo Goncalves1, Glauca G. Mantellini2, Giovani De Lorenzi Pires3, Edgard Matiello Júnior3,

Ana Carolina Basso4


Educagao Médica, Autonomia Profissional, Atividade Física.

Abstract


For many years, it has been issued classes of Physical Education to medical course as a regular activity. Considering the interest raised, the present communication introduces and discusses some aspects of this project. It is a didatic-methodologic process that encompasses sharing pratices and planned reflexions, based on i) pedagogical principles; ii) identifications of significant subjects to the students and iii) dialogue / rebuilding of these two conjuncts. Proceedings, results and meanings are presented and discussed with some detail.


Key words:

Medical Education, Professional Autonomy, Physical Activity.

Correspondencia: Aguinaldo Gongalves Rua Luverci Pereira de Souza, 1151, 13084-031, Cidade Universitária, Campinas, SP - Brasil. Correo electrónico: aguinaldogon@ uol.com.br

1. Introdugao e objetivos

Para além das últimas duas décadas de produgao científica, temos elegido entre nossas identidades conceber, propor e concretizar oportunidades pedagógicas em saúde. Executa-se, em decorrencia, política de formagao pós-graduada contemplando diversificacao de experiencias investigativas e de ensino a implementar o transito entre teoria e prática, habitualmente nao tao freqüentes quanto o desejável. Nessa perspectiva, um dos projetos vem se destacando: é o desenvolvido com universi-tários, expresso tanto em ensaios academicos apresentados em eventos nacionais(1), quanto veicu-lados em periódicos da área, eletronicos(2) ou nao(3,4), com apoio decisivo do Fundo de Amparo ao Ensino, Pesquisa e Extensao da Unicamp.

1    Médico Sanitarista, Pós-Doutor em Epidemiologia Genética. Docente Pesquisador A1, Coordenador do Grupo de Epidemiologia e Saúde, Faculdade de Medicina, PUC Campinas, Campinas,

Resumo


Por proporcionar a confluencia de interesses comuns, a disciplina Educagao Física Curricular ministrada para calouros do curso de Medicina, se identifica como projeto de ensino/pesquisa, interessante para ser conhecido e apreciado. Trata-se de processo didático-metodológico em que se aliam práticas e reflexoes participativamente planejadas, baseadas em principios pedagógicos problematizadores para a identificagao de temáticas significativas aos alunos e na interlocugao/ reconstrucao destes dois conjuntos. Na presente comunicacao, relatam-se e discutem-se respectivos resultados e significados.


SP - Brasil.

2    Fisioterapeuta, Doutora em Atividade Física Adaptada. Membro Diretor, Grupo Especializado em Fisioterapia Gerontológica , Sociedade Suiga

de Gerontologia, Zurique - Suíga.

3    Professor de Educagao Física, Doutor em Educagao Física. Professor Adjunto do Curso de Educagao Física, Centro de Ciencias do Esporte, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,

SC - Brasil.

4    Fisioterapeuta, Doutora em Saúde Pública. Docente da Faculdade de Fisioterapia da Universidade de Taubaté, Taubaté,

SP - Brasil.

Recibido:

27 de octubre de 2011

Aceptado:

20 de diciembre de 2011

Específicamente com calouros do curso médico, a Disciplina Educagao Física Currícular tem propiciado atividades desportivas e fundamentos de Formagao Médica, integradamente a Saúde Coletiva. Sem abandonar o estudo sistemático em sala e tampouco a freqüencia ao campo (e quadra), tem-se inovado a partir dos consensos de: i) sensibilizado discente para com a atividade física (AF); ii) transferencia em diregao a decisoes transformadoras e

iii) aceitado de leque de alternativas, para os estudantes, individualmente ou em grupos, optarem pelas que mais lhes sejam pertinentes^. Informales colhidas em exames médicos prévios ao início do programa semestral, testes de aptidao física, e anam-neses relacionadas ao nível de AF e hábitos pessoais revelaram formas distintas com que constroem eles a Saúde da Geragao Saúde(6): uma das surpresas que aí se apreendeu foi a constatado de que os rapazes que referiram hábitos de tabagismo e/ou etilismo expressaram-se, no plano descritivo, mais ativos fisicamente quando comparados aos abstemios; entre as mogas, as fisicamente ativas chegaram a apresentar seis vezes mais etilismo referido que as sedentárias.

Com as decorrentes acumulagoes e reflexoes, interessou compreender se essas aparentes contradigoes observadas sao peculiaridades das turmas envolvidas direta-mente nas aulas,ou próprias dos estudantes de Medicina. De fato, tais jovens expressam singularidades(7), no sentido de que as normas vigentes em sua formagao levam a: i) desprendimento de emogoes na relagao com pacientes; ii) conflitos entre dever (prevenir doengas) e reconhecimento social (curar doengas); iii) serem encarados como colegas de profissao ainda enquanto estu-dantes (e assim se portam, suportando precocemente elevado grau de responsa-bilidade). Como desdobramento desse indicativo, julgou-se procedente proposta de ensino e pesquisa em Formagao Médica que permita viabilizar a eles que sintam e avaliem a AF inserida no repertório de sua quotidianeidade, com vistas a operá-la junto a quem vao exercer influencia profi-ssional posterior.

2. Principios gerais e específicos

Partiu-se de compromisso com processo dinámico de interlocugáo e reconstrugáo de saberes e fazeres(8) em Saúde Coletiva, adotando-se procedimentos que assumam como princípios didáticos gerais:

a.    Construcao da autonomia: objetiva-se o estabelecimento integrado de "ferra-mentas", no sentido de que os alunos busquem autonomamente a ampliagao de conhecimentos e a incorporagao dos mesmos a vida social e academica(9);

b.    Efeito multiplicador: como conseqüencia do anterior, visa-se que contem com subsídios que os conduzam a multi-plicadores(10). Aqui, leva-se em conside-ragao que tendem a se tornar referencias em suas áreas de insergao, podendo, portanto, por agoes tomadas conscientemente, faze-lo em relagao a AF.

c.    Ludicidade: em oposigao ao caráter de performance ou aperfeigoamento da aptidao física e por sua característica de experiencia cultural sensível, prazerosa e criativa(11), foi focado como base orientadora o oferecimento de auto e co-deter-minagao, como momentos de suspensao temporária da realidade. Ressalta-se a especificidade destes estudantes, em virtude do processo competitivo a que foram submetidos na preparagao para o ingresso. Gestos lúdicos podem se mos-trar-lhes humanizadores das relagoes consigo mesmo, com o meio e com a sociedade.

d.    Planejamento participativo: trata-se de levar o plano de estudos a ser constantemente avaliado, produzindo os chamados "temas dobradigas", articuladores dos significados do universo discente as elaboragoes definidas pela equipe docente. Parte-se de suas culturas de movi-mento, construídas em AF escolar e de lazer pregressas, para serem valorizadas e ressignificadas. A espectativa é que, incorporando o (re)conhecido, seja facilitada a apropriagao ativa e crítica do novo e do superador(12).

e.    Integracao (graduacao/pós-graduacao; ensino/pesquisa; agir/refletir): exerce-se este princípio pela articulagao entre um docente e alguns de seus mestrandos e doutorandos com cento e dez primeiro-anistas de graduagao. A partir de entao, geram-se condigoes para construir bancos de dados, analisá-los e torná-los disponíveis para a comunidade acade-mica da área com produgoes de relatos, comunicagoes e artigos, que já perfazem total superior a 400 publicagoes(13).

3. Material e métodos

No nível da execugao, por via de conse-qüencia, adotaram-se os passos sugeridos por Freire (1983)(14), a saber: i) apresentagao de plano exploratorio para a Disciplina, com conteúdos considerados "necessários" pelos critérios já referidos; ii) identificagao de temáticas significativas aos alunos, através de inventário biográfico de sua cultura de movimento; iii) interlocugao e reconstrugao destes dois conjuntos de saberes e fazeres, produzindo programa de ensino superador, portanto, dos anteriores, apresentado no quadro 1. Destaque-se ainda o caráter de flexibilidade e avaliagao permanente que permitiu a este planejamento refazer-se repetida e dialogicamente.

Quadro 1. Programa apresentado para montagem inicial do Planejamento Participativo

-    Apresentagao. Identificagao das temáticas significativas no universo dos alunos

-    Avaliagao médica

-    Testes de Aptidao Física

-    Intensidade do Esforgo

-    Passeio assistido (no Parque do Lago)

-    Saúde, doenga e intervengao

-    Esporte, mídia e encenagoes pedagógicas

-    Atividade Física e tempo livre

Na versao mais recentemente oferecida, foram constituídas duas turmas, cada uma delas com 55 alunos, com duas aulas semanais de 50 minutos cada, realizadas de modo seqüencial. Para ambas estavam previstos os mesmos procedimentos, embora se admitisse que, em virtude das peculiaridades que as conformam, diferengas de estratégias e ritmos pudessem se diversificar. Os profissionais tiveram asseguradas prerrogativas para orientar, a partir de fundamentagao comum básica, sua atuagao de forma julgada mais apropriada. No entanto, como se tratou de planejamento participativo, durante todo o processo sempre houve momentos para avaliagao e reorientagao.

De imediato, introduzidos os protagonistas, o projeto foi exposto na primeira aula. Todos os participantes receberam, para apreciagao e posterior discussao, respectivo programa preliminar. A seguir, entregou-se, a cada um, formulário para coleta das informagoes relativas ao segundo passo já enunciado. De posse da exploragao de tais dados, foram reunidos de sorte a contemplar interesses que preservassem os princí-pios originais. Dois de nós (G.L.P. e E.M.J.) ficamos a disposigao dos demais para a consecugao desta fase.

Sob orientagao docente continua e proximal, foram alocados para cada aula, dois integrantes do Grupo: um responsável e outro, auxiliar. A aula seguinte era ministrada pelo auxiliar da anterior, agora na qualidade de responsável, e assim sucessivamente. Isto evitou que ocorressem fragmentagoes e que ministrante e alunos se conhecessem apenas no dia da aula.

Coerentemente com o apontado na segao anterior, a investigagao foi de natureza quali-quantitativa, buscando recolher evidencias que permitissem descrever e avaliar o alcance da intervengao. Vários foram os recursos utilizados como equipamentos de avaliagao física: cronómetros, formulários impressos, filmadora, predominando a utilizagao diretamente pelos próprios alunos. Nessa diregao, também variadas se fizeram as dependencias utilizadas: a partir do encontro em sala, partia-se quase sempre para ambientes externos, como as quadras, sala de ginástica e o Parque do Lago. Foram processadas filmagem e registro fotográfico. Este conjunto de dados foi catalogado, transcrito, sistematizado e submetido, nas sucessivas etapas de registro e interpreta-gao, a análise de conteúdo.

Esta consiste em forma de hermeneutica controlada, aplicável a discursos diversificados, gerada pela inclusao de amplo espectro composto desde o rigor da objetividade até a fecundidade da subjeti-vidade. Em outros termos, delimita-se segunda leitura atenta e fecunda, que transcende o olhar imediato e espontaneo do leigo, por estruturar-se em consensos próprios. Especificamente, adotou-se a modalidade categorial, em que se recolhe o saber/agir do entendimento textual e se busca apreender a idéia principal de cada segmento sob estudo, isolando-a ao lado das demais, para compor listagem de temas ou itens assim recuperados. As categorias sao rubricas ou classes, que reúnem elementos sob título genérico e em razao de caracteres comuns dos mesmos. O critério de catego-rizagao pode ser semantico, sintático, lexical e expressivo(15). Mais amplamente, todas as fases da intervengao foram miradas, pela perspectiva da metodologia qualitativa, através da abordagem do interacionismo simbólico, permeando a apreensao e análise de pistas eliciadas, como expressoes adotadas de linguagem nao verbal e registro de fatos e ocorrencias, significados pelas circunstancias e detalhes reveladores para olhos de querer ver(16), i.e. demarcados pela intencionalidade e exaustao, os dois baliza-dores desta abordagem.

Apesar da complexidade que, inerente-mente, dificulta um relato detalhado, explicitam-se, a seguir no quadro 2, os "temas dobradicas" implementados e respectivos identificadores. Como aí se constata pela observagao imediata, trata-se de atividades desenvolvidas por coerencia com os princí-pios gerais e específicos inicialmente mencionados e implementados, contemplando com característica identitária sua realizagao coletiva e solidária, bem como, sempre que possível, em ambientes nao isolado nem individual, mas natural ou social, como já marcadamente destacado, i.e., em parque e quadra(17).

Quadro 2. Explicita^es dos "temas dobradigas", segundo oportunidade de aplicagáo, caracterizados por respectivas agoes e recursos.

"Temas dobradigas"

Oportunidade de aplicagao

Primeira aula

Segunda aula

Testes de Aptidao Física

• exposi^ao teórica com demonstrares práticas.

•    prática desenvolvida na pista de atletismo;

•    execu^ao dos testes e discussao subseqüente.

Intensidade de esforgo

•    exposi^ao do conceito, apresenta^ao das metodologias utilizadas para aferi^ao e aplicagao em atividades anaeróbias;

•    discussao dos resultados colhidos.

•    mesmos procedimentos, mas com atividades aeróbias;

•    discussao da diferen^a do comportamento da intensidade de esforgo nas modalidades intermitente e na continua.

Passeio Assistido (no Parque do Lago)

•    apresenta^ao da proposta de trabalho e respectiva fundamentado teórica, baseada principalmente na Pedagogia Crítico-emancipatória (Kunz, 1994)9;

•    reconhecimento do Parque do Lago;

•    discussao preliminar de possibilidades de desenvolvimento de atividades que privilegiassem a ocupa^ao do espado natural, com caráter lúdico e integrador do grupo;

•    formagao de quatro grupos de trabalho para formulado e aplicagao de atividades na aula subsequente, considerando as experiencias motoras e as aulas anteriores da atual disciplina.

• execu^ao das propostas dos subgrupos (jogos) com avalia^ao intermediária e final do processo.

Saúde, Doenga e Intervengao

•    vivencia de atividades de relaxamento, alongamento muscular e futebol cooperativo, segundo roteiro previamente elaborado;

•    preenchimento de protocolo de avalia^ao das atividades desenvolvidas.

• discussao sobre qualidade de vida, saúde, doenga e intervengo.

Esporte, mídia e encenagoes pedagógicas

•    exposi^ao de dois referenciais teóricos: i) a dramaturgia social ou “teoria dos papéis sociais”, de Erving Goffman; ii) as encenagoes pedagógicas do esporte, propostas por Dietrich et Landau 17;

•    prática de jogo de uma modalidade esportiva coletiva, registrada por equipes de filmagem.

•    reflexao sobre os “papéis encenados” pelos alunos, nas diferentes a^oes - jogadores, juiz, torcida, repórteres, comentaristas, etc.

•    análise, destacando a influencia dos meios de comunicado de massa na determina^ao/consolida^ao dos papéis sociais em geral (p.ex., os médicos).

Atividade Física de tempo livre

• • desenvolvimento de atividades recreativas, como: barra manteiga, bola de gude, pular corda, rodar piao, queima e betes.

• "Ca^a ao Tesouro" com perguntas sobre questoes básicas de Saúde Coletiva e debate a seguir.


No final da disciplina foram coletadas apreciagoes sobre o curso através de instrumento padronizado, seguidas de discussao plenária sob coordenagao docente e que constituem o objeto dos resultados quanti-tativos e qualitativos relatados no próximo segmento.

Todos os procedimentos descritos acima estao e foram aplicados em consonancia com os princípios éticos norteadores das resolugoes vigentes do Conselho Nacional de Saúde do Brasil e da Conferencia de Helsinque para Pesquisas Envolvendo Seres Humanos.

4. Resultados

Resultados Quantitativos

Ao final do processo, em avaliagao empreendida por formulário específico e de respostas individuais, as questoes maiores colocadas apontaram para o atendimento ao caráter lúdico da proposta; a estimu-lagao para auto-organizagao dos grupos, bem como a insistencia por assungao de valores como cooperagao, respeito, solida-riedade, altruísmo, cuidado, dentre outros. Pontualmente, a tabela 1 indica respectivas distribuigoes de freqüencias absoluta e relativa. Visando aprimoramento em aplica-goes posteriores, foram ainda pontuadas 17 sugestoes enumeradas na tabela 2: em síntese revelam que embora a maioria dos alunos "quer mais do mesmo", a apreciagao dos aspectos mencionados como negativos ou indicagoes de melhora para os próximos cursos aponta para a aquisigao, pelos mesmos, de consciencia crítica em diregao a autonomia.

Resultados Qualitativos

A proposta de que os ministrantes conhecessem as turmas, pelo menos na semana anterior a aula de sua responsa-bilidade, foi atendida e bem avaliada, a ponto de obterem-se gradualmente melhores desempenhos. Também é exemplificador o quanto a divisao de tarefas pode facilitar o transito junto a turmas numerosas.

Chamaram atengao nos relatórios e nas discussoes preliminares algumas revelagoes bem visíveis: i) inicialmente, nao chegaram muito animados, dando pistas de certa indisposigao para o que julgavam atividades secundárias, a partir de sua situagao de "calouros da Medicina" - o que parece ter se alterado, com o fato de os mesmos se tornarem bastante interessados ao longo do tempo; ii) em sala de aula, foram ruidosos, chegando a tomarem atitudes habitualmente nao praticadas (colocar pés nas cadeiras, por exemplo), o que pode ser derivado da descontragao atingida apenas na Educagao Física; iii) houve maior interesse e aderencia a ocupagoes externas, quando se empen-haram intensamente em jogos e brincadeiras;

iv) o número reduzido de presentes facilitou a proximidade entre si em algumas situagoes, ao mesmo tempo em que valorizavam a aula, independente do número.

Num dos exercícios, o do futebol com regras adaptadas, havia um dos alunos que normalmente nao tomava parte, por restri-goes médicas para AF. No entanto, como se demonstrou que a proposta nao exigiria tanto em termos de intensidade e esforgo, convenceu-se e participou - aliás, foi dos que mais o fizeram! Este fato demarca o questionamento, pelo menos, de um lado, para com os exames médicos para fins de prática desportiva e, por outro, dos objetivos postos.

Em termos de desdobramentos de médio prazo, numerosas foram as mani-festagoes da comunidade academica local acerca desta iniciativa, contando-se entre as mais freqüentemente recolhidas:

i. o caráter de pioneirismo da proposta concretizada, o que, realmente fez com que praticamente todos os aspectos concei-tuais e operacionais envolvidos nao contassem com antecedentes que pu-dessem guiar ou, ao menos, contribuir para a efetivagao dos mesmos;

ii.    o fato, comentado pelos colegas respon-sáveis pelo ensino de Propedéutica e pela coordenagao do curso, que seus alunos, após cursarem esta Educagao Física Curricular, demonstravam-se mais seguros e a vontade nas relagoes humanas da iniciagao semiológica, especialmente nos procedimentos de palpagao e percussao, dado que tinham aprendido a lidar melhor com a aproximagao e o toque entre as pessoas;

iii.    Sua absoluta excepcionalidade, por ter sido mantida em vigéncia por mais alguns anos por decisao da Congregagao da Unidade, nao obstante a realizagao da reforma curricular havida, que alterou a imensa maioria das demais Disciplinas;

iv.    O aspecto adicional de sua releváncia, por introduzir concretamente o estudante de Medicina a realidade da AF na preven-gao e controle das doengas cronico-de-generativas pelo combate a hipocinesia e competitividade paradigmáticas do mundo e da morbidade atuais;

v.    A geragao de consciéncia critica da necessidade de o curso desenvolver conteúdos referentes, minimamente, a questoes do ámbito de Fisiologia do Esforgo e Cinesiologia/Cinesioterapia, já presentes na formagao de outros pro-fissionais integrantes da equipe de saúde, embora com alcance mais circunscrito que o do médico;

vi) A amplamente reconhecida aplicagao, no exercício profissional deste, das vivén-cias aqui apreendidas, nao exclusivamente em termos de competencia técnica, mas inclusive de valores humanos de convi-véncia e solidariedade.

5. Discussao

A investigagao relatada traz como questao central a reflexao em que medida a Formagao Médica pode incluir em sua composigao a AF sistemática dimensionada no contexto aqui apresentado.

A observagao da evolugao comporta, com seguranga, resposta afirmativa, posto que vem se tornando contemporaneamente verdadeira trajetória de (re)humanizagao, em diregao a superagao dos limites recon-hecidamente existentes(18) em sua moderni-zagao desde o início do século XX, com o famoso relatório Flexner a enfatizar a formagao experimental de base sub-indivi-dual, proveniente de pesquisa básica, bem como a especializagao excessivamente precoce dentro do ambiente intra hospitalar.

De fato, na recuperagao dos fatos recentes envolvidos em tal realidade, Almeida (2001)(19) situa a Segunda Conferéncia Mundial de Educagao Médica, havida em Edimburgo em 1993, ao lado da Conferencia Integrada Universidade Latino-Americana e Saúde da Populagao (em Havana, 1992) como os dois eventos importantes/processos internacionais "que serviram para acumular conhecimento e poder por parte dos atores do movimento continental". O referido texto revela que, no interior do acontecimento citado, o documento de posicionamento das Américas, de autoria inclusive da Organi-zagao Pan-americana da Saúde, registra a necessidade de outro paradigma educativo, em fungao do indivíduo e da sociedade; reconhece a seguir, como conseqüéncia, a caréncia por novo sistema de valores interdisciplinares. Poucos anos após, Campos (1999)(20) estudou numerosas Faculdades de Medicina no país: partindo do pressuposto de que a principal qualidade dos médicos consiste na capacidade de resolver problemas, o que implica aspectos biológicos, subjetivos e sociais, conclui pela inadequagao do entao e ainda hoje presente modelo de treinamento clínico.

Felizmente, esta década vem registrando entre nós vigoroso movimento de transformagao existente, constituído nao somente por dirigentes, especialistas e comunidades académicas, mas instituigoes decisórias de nível federal, estadual e local, pois Siqueira (2001)(21) identificou que, desde entao, existe no Brasil, no conjunto de diferentes grupos de escolas médicas, aquele que procura investir na capacidade metodológica e política que leva ao aluno situar-se mais próximo do real e do aplicado.

Em síntese, cabe lembrar a observagao de Lima Gongalves (2001)(22), que, referindo-se a AF como "competigoes desportivas", encontra-lhe dois sentidos antagonicos: se por um lado, constituir-se-ia, no dizer do autor, em "fator de ansiedade", por outro, encerra "alto conteúdo formativo", seja pela socializagao que promove, seja pela influencia na saúde física e emocional. Em outros termos, em nossos dias, superando-se, como vimos, o primeiro aspecto mencionado por exercícios físicos e atos motores diversificados, autenticos e mais amplamente considerados, busca-se deliberadamente o segundo.

6.    Financiamiento

Projeto parcialmente financiado pelo Fundo de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensao (FAEPEX/Unicamp).

7.    Declaragao de autoria e conflitos de interesse

AG concebeu, coordenou, redigiu e reviu todo o projeto e texto original, com apoio direto de GGM. Todos os autores partici-param das fases de formulagao, execugao e relato. Os autores declaram nao haver conflitos de interesse.

8. Referencias

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